quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cancro da Mama


Cancro da Mama
Dr. Maria João Cardoso
Não podemos deixar de iniciar um artigo sobre cancro da mama sem algumas reflexões sobre os números. Na verdade, o cancro da mama continua a ser, na Europa, o tumor mais frequente na mulher.
Em Portugal os dados disponíveis referentes a 2006 indicam um número de novos casos de 103,5 por 100.000 habitantes (uma em cada dez mulheres aproximadamente). A estimativa da mortalidade em Portugal, para o ano de 2006, foi de 21,0 por 100.000 habitantes. Isto significa, de grosso modo, que 2 em cada 10 mulheres diagnosticadas com cancro da mama irão morrer devido à doença.
Isto significa também, e deixando o pessimismo, que 8 em cada 10 mulheres diagnosticadas com cancro da mama irão viver!!!
Sou por natureza optimista e tento passar essa mensagem para as minhas doentes, pois mais do que a minha natureza, a evidência científica mostra-nos que temos razões para ser optimistas.
Este optimismo deve-se mais uma vez à ciência e aos seus avanços pois o diagnóstico e o tratamento do cancro da mama melhoraram espectacularmente nos últimos anos.
No entanto é difícil ultrapassar a barreira do pessimismo quando se encara a possibilidade de ter um cancro da mama. E porquê?
Obviamente porque a ideia de cancro continua associada à ideia de morte e na mama à ideia de amputação (mastectomia) e ainda à ideia dos efeitos nocivos provocados pelos tratamentos de quimioterapia e radioterapia.
O que fazer então perante a suspeita de que algo não está bem na mama, quer porque surgiu algum sintoma, quer porque os exames mostraram algo de anormal. Este é o primeiro problema que as mulheres têm que enfrentar.
Um conselho nesta fase, calma, mais de 80% das alterações, clínicas (nódulos, dor) ou infraclínicas (detectadas apenas nos exames), são benignas. Também nesta altura é muito importante o esclarecimento detalhado sobre o órgão, a sua fisiologia e o que significam os sintomas que aparecem. Aqui uma chamada de atenção: o diagnóstico das lesões da mama não deve ser feito inicialmente com a cirurgia! Com os exames que actualmente temos disponíveis (Mamografia, Ecografia, Ressonância e Biópsias de Agulha) podemos, sem ter que fazer uma operação, obter um diagnóstico correcto em mais de 95% dos casos.
Mas, e se a suspeita for de um cancro, pois eles existem? Também aqui e hoje, inequivocamente, um bom diagnóstico leva a um melhor tratamento. Saber que se tem um cancro não é suficiente, pois não só não há dois cancros iguais como o comportamento de cada um varia de acordo com o organismo onde se desenvolveu.
Realço por isso a necessidade de saber o que vamos tratar e como o vamos tratar. Mais uma vez a primeira atitude deve ser realizar todos os exames possíveis para saber tudo sobre o cancro que vamos tratar. Da mesma forma devemos saber tudo sobre a mulher que vamos tratar!
Há 20 anos atrás nenhuma destas afirmações era importante pois o tratamento do cancro da mama passava sempre por retirar a mama (mastectomia) e os gânglios debaixo do braço (esvaziamento axilar). Hoje, ainda que essa opção continue a existir, outras alternativas, que vão desde a cirurgia conservadora até à mastectomia com reconstrução imediata (na mesma altura em que se tira a mama faz-se a reconstrução) e aos tratamentos de quimioterapia primária (antes da cirurgia) para tornar o tumor mais pequeno e permitir uma cirurgia mais limitada, se afirmaram permitindo às mulheres que têm estas escolhas uma forma diferente de ver a doença e o tratamento. Esta diversidade de opções aplica-se também à radioterapia e aos tratamentos sistémicos (quimioterapia, hormonoterapia e terapias biológicas).
Hoje o tratamento é afinado para cada mulher e para cada cancro. São os chamados "tailored treatments", em português os tratamentos talhados para cada um. Esta abordagem centra-se na diversidade do indivíduo e da doença e tem como objectivo fundamental a optimização do tratamento com consequente melhoria da sobrevivência.
Com estes ingredientes, um melhor diagnóstico e novas formas de tratamento, é claramente mais fácil passar a todos, e com convicção, a tal mensagem de optimismo.
Dr. Maria João Cardoso,
Coordenadora do Grupo de Patologia Mamária do Hospital de S. João e
Professora Auxiliar de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP)

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